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quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Paixão/Sociedade

Houve um tempo em que podíamos dedicar a vida a uma paixão. Em tempos a história, ou o ritmo da história, permitia que os indivíduos dedicassem a totalidade das suas vidas a uma paixão. Era-se escritor, ou pintor, ou filósofo, ou etc. e ponto. Não havia necessidade de se ser outra coisa para o efeito de “ganhar a vida”, essa nefasta expressão que hoje condiciona tudo. É certo que muitas destas pessoas viveram em condições de extrema pobreza mas dedicavam-se de corpo e alma à sua paixão e tiravam daí todos os lucros que necessitavam. Hoje, alguém que se dedique na totalidade a uma paixão é um lunático e como tal é condenado ao ostracismo pela sociedade dita normal. Quem não tem um emprego, uma casa, uma família, um carro, um horário e um sem número de outras responsabilidades não é uma pessoa normal. E se para além de não ter nenhum destes distintivos, ainda por cima, dedicar a sua vida a uma paixão, então, é um doido. Ser surfista é hoje tão ou mais estranho do que ser pintor ou poeta.
Quem entrega a sua vida à paixão pelas ondas, vive numa comunhão quase monástica com o mar, a natureza, os elementos, o próprio corpo. O único objectivo é o prazer sublime de correr uma onda, tão próximo do prazer de um poema. O único lucro é o enobrecimento interior. Quem dedica a sua vida a uma paixão não o faz para ganhar a vida mas para dar razão à vida. O Surf, como a arte, é uma paixão porque é vivido, antes de mais, na alma.
Abraço - Vasco Carvalho

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